segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Depois da Geringonça, a pesca à linha

Vamos ter uma governação de "negociação à vista e pesca à linha" ou, quem sabe, do velho PS do pisca-pisca, ora à esquerda, ora à direita. Veremos o que virá na rede, mas certamente não será o que os portugueses e o país mais precisariam.
Em 2015, o PS não venceu as eleições mas, com o apoio do BE e do PCP-PEV, conseguiu uma maioria parlamentar que lhe permitiu constituir governo e afastar a Direita da governação. Esta solução governativa, que os críticos alcunharam de Geringonça, por considerarem que não tinha pernas para andar, manter-se-ia afinal durante toda a legislatura, melhorando a vida dos portugueses com a devolução dos cortes de rendimentos (salários e pensões) feitos pelo governo anterior.
Nas recentes eleições legislativas, os eleitores deram uma vitória expressiva ao PS (que a duas semanas do acto eleitoral esteve até à beira de alcançar uma maioria absoluta) e, injustamente, — sim "o povo é quem mais ordena", mas nem sempre o faz bem e com sentido de justiça — entenderam apenas manter o número de deputados do BE e fizeram ainda pior ao PCP-PEV, reduzindo-lhes quase um terço da representação parlamentar. Como se os méritos da Geringonça coubessem por inteiro ao PS, o que qualquer pessoa intelectualmente séria sabe que está muito longe de ser verdade.
E a verdade é que a Geringonça, que em 2015 serviu para o PS (que não venceu as eleições) ser governo, e mais importante que isso, para devolver os rendimentos e a esperança aos portugueses, já não serve, agora que o PS venceu folgadamente as eleições, para continuar a melhorar as nossas vidas e fazer de Portugal um país socialmente mais justo.


É por isso que o PS, três dias após ter proclamado que “os portugueses gostaram da geringonça” e apenas vinte e quatro horas depois de se ter comprometido a continuar as negociações com o BE para um acordo de legislatura que desse estabilidade à governação, afinal, tomando como pretexto a conhecida recusa do PCP-PEV de fazer parte de uma nova geringonça e na sequência da reunião com as Confederações Patronais, assinou a certidão de óbito da Geringonça.
Vamos pois ter uma governação de "negociação à vista e pesca à linha" ou, quem sabe, do velho PS do pisca-pisca, ora à esquerda, ora à direita. Veremos o que dará a pescaria, mas certamente não será o que os portugueses e o país mais precisariam.



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